Acordei e, por 5 segundos, tinha 7 anos novamente e me preparava para sair às pressas de casa com mãe e irmão.
Mas, ao contrário dos 27 anos que passei morando com a minha família, dessa vez não era comigo. Era a vizinha com medo, ouvindo xingos, vendo ele quebrar coisas. Era ela.
Mas ainda era eu. 2 da manhã, gritos, coisas voando para a parede, choro, portas batendo. Ela sou eu. E minha mãe. E mais uma infinidade de “elas”. Nós.
A história se repete, de novo, como tantas vezes eu já vi: ele quebra tudo, nós pedimos por favor; ele xinga, nós choramos; ele continua, nós saímos, ligamos para a mãe, amigos ou irmãos. Ele se arrepende e chora, nós voltamos.
Eu me sinto impotente e fraca pois nunca consegui “ajudar” ninguém. Relações abusivas são como uma cortina de fumaça, inclusive para quem não é o alvo literal do violão voador.
Sempre serei eu, ela, nós. Esse tipo de experiência deixa marcas fundas, ela tremia, chorava, estava com vergonha e medo. Eu também.
Ainda não sei como nós ainda conseguimos algumas noites de sono. Mas sei que, hoje, nós não dormiremos de novo.