Vivendo com a Depressão

É como se a gravidade fosse maior. Como se eu fosse meu próprio planeta e a gravidade fosse maior do que a da Terra.

Por isso, às vezes, é difícil sair da cama. É difícil tomar banho, trocar de roupa, ir na padaria. Tem uma força puxando você para baixo o tempo todo.

Além da força física te impedindo de seguir uma rotina comum, a cabeça… É como se seu cérebro fosse dominado pelo Tom deprimido:

Sad Tom

Esse é meu cérebro quando a depressão bate. Esse aí é o Tom com o coração partido, mas para efeitos de ilustração, serve.

Até porque, pelo menos comigo, a crise de depressão até parece um tipo de fossa. Eu me sinto  a pior pessoa do mundo, não quero falar com ninguém, não quero me mexer, só quero que o tempo passe o mais rápido possível, pular para a parte que eu fico bem e esqueci o ex. O problema é que não tem ex para esquecer, então toda a “fossa” pode durar semanas e semanas sem ter alguém para eu culpar.

“Mas, Isa, você tem um monte de amigos que se importam, alguns estão até em outros continentes e fazem de tudo pra saber se você está bem”. Pois é, eu sei. E isso me faz sentir pior, pois como pode alguém com tantas pessoas boas em volta ainda se sentir tão sozinha? A lógica não faz parte da vida quando você tá numa espiral de depressão (ou ansiedade) e seus sentimentos estão tão ajeitados quanto Taiwan depois do tsunami de 2005.

No meio disso tudo, sempre tem alguns elementos especiais que ajudam a piorar tudo. Não é culpa de ninguém, na verdade, as pessoas não são vilãs de novela mexicana e as situações não foram tramadas por essas vilãs. Mas é como se fosse. É como se tudo e todos estivessem ou conspirando contra você ou com dó ou totalmente indiferentes. E mesmo isso não sendo verdade, dói.

Dói sentir o vazio que eu carrego aqui dentro. Dói pensar que nada, ninguém, pode preencher ele a não ser eu mesma e que eu não sei de onde vou tirar essa força. Tudo dói.

E ainda tem a gravidade extra-forte do meu próprio planeta me puxando para baixo.

A carta a quem interessar possa V

Querido amigo, quanto tempo!

Perdão por não manter contato, eu normalmente escrevo quando estou muito feliz ou muito triste e passei muitos meses estando nem um e nem outro, por isso a ausência.

Você não perdeu muita coisa, meu país está em um cenário político-social cada vez pior e a economia continua uma bagunça. Obviamente quem mais sente tudo isso são os que não tem ferramentas e meios de se defender e lutar contra, mas isso fica para outra carta…

Eu decidi escrever porque percebi que, novamente, após um período de fechamento emocional, eu me abri. E foi muito fácil. Assustadoramente fácil. É fascinante como algumas pessoas são tipo o Rei Arthur com aquela espada, mas, em vez de espada e pedra, é nossa mente e disponibilidade emocional.

Em 2 horas, você sai de Ok, vamos, não custa conhecer alguém novo para Puta que pariu, fodeu com um sorriso idiota na cara.

O grande problema disso tudo é que assusta. Você não vê chegando, na verdade, você acha que aquilo, aquela pessoa, nunca te atingiria como atinge. E, do nada, você olha o telefone toda hora, espera por mensagens, agradece aos deuses da tecnologia por ter desativado o “última vez online” e os checks azuis do Whatsapp. É patético, pois você já está velho demais para essas coisas, você tem outras (grandes) preocupações e problemas. Mas o que pesa no seu dia é a porcaria de uma mensagem visualizada e não respondida em outro aplicativo.

Culpa? Ninguém tem culpa. Não há promessas, nunca houve, e não existem cobranças ou débitos. A vida é assim, nem tudo é recíproco. Nem tudo é como Call Me By Your Name, onde você vive um amor puro num cenário do verão italiano. Quem me dera fosse assim, pelo menos eu aproveitaria a paisagem.

Na verdade, é um alívio ver que eu ainda posso me sentir assim, sabe? Tem momentos em que eu acho que já vivi o que tinha para viver emocional e romanticamente, mas não, claro que não, eu tenho 27 anos. Ainda tenho espaço e tempo e vontades. Ainda sou alguém que, por mais que eu finja que não, gosto de ter outra pessoa do meu lado.

Então, amigo, é isso. Que as próximas cartas que sejam menos melancólicas e mais felizes. Ou que pelo menos eu reclame sobre outra coisa.