A sensação quente enche o braço, transcorre pelas mãos, pelos dedos, pinga em volta.
A mente lembra de momentos aleatórios e desconexos. Como aquele dia em que acordei no parque e o sol estava quente, mas não quente desagradável, e sim como entrar em casa depois de andar na rua quando está frio. Uma quentura que te acolhe e te abraça e passa segurança.
Também lembro do dia em que visitamos um parque novo, sentamos na grama e ouvimos nossa banda preferida enquanto tirávamos fotos e acreditávamos que nunca acabaria.
O dia em que conversamos e concordamos que precisávamos dar um jeito de ficarmos juntos, porque a vida era ok quando separados, mas muito melhor um com o outro.
Aquela vez em que implorei para você não ir embora enquanto as lágrimas escorriam sobre meu rosto. Quentes por menos de 2 segundos, então frias como os seus olhos ao olhar os meus.
O dia em que cozinhamos e brincamos e rimos e comemos e dormimos, um dia tão simples, mas, ainda assim, tão completo e perfeito.
Quando decidimos que éramos eternos.
E o dia em que chorei abraçada em você, porque guardei coisas demais e meu corpo não aguentou o que minha mente planejou. E até hoje lembramos de Vanguart por causa disso.
Todas as vezes que, mesmo sem pedir, amigos me apoiaram e mandaram mensagens ou ligaram para me lembrar de que eles estão sempre ali.
Os cachorros, os gatos, os filhotes. Os livros, os filmes, as discussões, as brigas, as pazes.
Minha mãe. Minha avó. Meus amigos próximos. Ah, é tão bom pensar neles.
Mas a quentura diminui com o passar dos segundos. Um arrepio, o frio, a tensão automática quando meu cérebro percebe que algo deu errado, os músculos relaxando quando meu cérebro percebe que não tem mais o que fazer, então ele resolve desligar.
O sangue fora faz falta dentro, então não sinto mais nada, só algo comparado ao sono.
Não tem mais dor, lembranças, quentura ou frio. Só névoa e a sensação de estar caindo no sono. O sono merecido depois de tanta dor.