Ela abriu os olhos. Uma única luz amarelada fazia-se notar sobre um cobertor branco. Era um teto.
Estava deitada em uma cama com grades laterais.
Olhou para os lados e conseguiu identificar alguns objetos:
– Um ar-condicionado.
– Uma poltrona reclinável.
– Um banheiro.
– Tomadas.
– Um dispenser de parede para álcool gel.
– Uma janela com travas.
– Uma máquina de ventilação mecânica.
– Um suporte para soro e medicamentos.
Estava em um hospital.
Levantou-se e viu sua mãe sentada em uma cadeira quase que de frente para a cama.
“Mãe?”
Sua mãe a olhou com os olhos já marejados, abaixou a cabeça e começou a chorar.
“Mãe? O que eu tô fazendo aqui?”
Nenhuma resposta.
Deixou a cama. Estranhou o fato de não haver nenhum acesso em seu braço. Caminhou em direção à cadeira.
Aproximou-se e acariciou os cabelos de sua mãe. O pranto da mesma intensificou-se (de um patamar inicial de 85 decibéis, agora atingira o nível de 110 – volume este que é tolerável por apenas 15 minutos aos ouvidos de um ser humano comum).
Sua mãe não emitiu nenhuma resposta, afora as lágrimas que agora caíam mais rapidamente por seu rosto.
Tentou cutucá-la, chacoalhá-la mas, mesmo assim, nenhuma resposta.
Decidiu deixar o quarto e procurar algum enfermeiro que pudesse ajudá-la.
Prosseguiu em direção ao balcão de atendimento. Lá estava uma moça morena que aparentava estar estudando o prontuário de algum paciente.
“Moça.”
Nenhuma resposta.
“Moça!”
Nenhuma resposta.
“MOÇA!”
A enfermeira agora consultava seu celular.
Ela estava vendo um vídeo.
“Senhora? Senhora? A senhora é funcionária da Assembléia?”
“Ai, ai, esse país não tem jeito…”, disse a enfermeira.
“Moça, eu sei, mas quem sabe você pode me…”, disse ela.
A enfermeira agora parecia estar lendo algo muito engraçado em seu celular pois não parava de rir.
“HAHAHAHA, ai meu Deus! Esses memes! Esse povo é tudo louco, viu!”, falou a enfermeira, virando-se e entrando por uma porta.
Ela ficou consternada.
“Que porra tá acontecendo?”, ela pensou.
Decidiu procurar algum outro enfermeiro ou algum médico.
Enquanto passava por um dos quartos notou uma forte luz branca pela janelinha do mesmo. Mais a frente deparou-se com uma saída de emergência, trancada. Cruzou com duas vending machines: uma com salgados e outra com bebidas. Havia também uma máquina de café.
Continuou andando. Encontrou algumas pessoas pelo caminho e tentou fazer contato.
Nenhuma resposta.
Chegou ao fim do corredor.
Haviam ali elevadores com apenas dois botões: um para cima e outro para baixo.
Apertou o botão para cima. Ele se iluminou e se apagou. Apertou o botão para baixo. Ele se iluminou e se apagou. Tentou novamente o botão para cima. Ele se iluminou e se apagou. Tentou novamente o botão para baixo. Ele se iluminou e se apagou. Tentou várias outras vezes e em todas o botão se iluminou e se apagou.
Um rapaz, como que do nada, apareceu do seu lado. Calmamente apertou o botão para baixo. Dessa vez o botão não se apagou.
Em cerca de segundos o elevador chegou. O moço entrou. Ela tentou segui-lo.
“Esse não é seu.”, ele disse.
A porta se fechou.
Parabéns e ansiosa pelo próximo texto.
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Muito bom! Volto para ler mais. Abç.
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Obrigado, Zaida! Um abraço!
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Caramba; o segundo texto é mais intenso. A solidão assusta bastante, gostei da metáfora do elevador e a forma como você situa o conto com as referências da internet. Eu me ligo bastante no tema solidão, ela ao mesmo tempo assusta e acalanta. Mas vc descreveu algo intenso, um sentimento de isolamento, que assusta. Minhas referências de terror no cinema não são os filmes com sangue e tripas, mas aqueles em que o monstro isola o protagonista. Parabens cara
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