E morreu IX (eu, no caso)

Parte VIII

Três anos antes

Viajar e encontrar as duas pessoas que eu talvez ame do jeito mais romântico possível, pois o contato é limitado e a comunicação completamente escassa, então sou livre para sempre manter as coisas boas em mente. Mas são meus padrinhos, são meus pais-caso-eu-fique-sem-pais, são as pessoas para quem meus pais biológicos cederam meus cuidados e vida em caso de necessidade.

Se você parar para pensar, é algo grande. Escolher alguém para ser você quando você não estiver aqui.

O normal é ser um parente de sangue, acho, pelo menos a maioria dos meus amigos tem tios e tias como padrinhos e madrinhas.

Mas eu não. Meu padrinho e madrinha são dois amigos da família, duas pessoas que meus pais pensaram “ok, eles podem fazer nosso trabalho bem feito caso TUDO DÊ ERRADO”.

E olha… Eles poderiam mesmo.

Chegar naquela cidade e encontrar aquele que eu sinto falta quase todos os dias, pois com ele sim há diálogo, há proximidade, há um laço criado além do laço imposto socialmente. Ele é conforto, é segurança, é conversa, abraço, risada. Ele não precisa de nada além de uma frase para me fazer falar como não falo nem com amigos. Ele é um dos principais personagens da minha vida tão curta.

Ela? Ela é tudo que eu queria ser. Ela chuta bundas, sabe que carrega um poder tão grande que poderia dominar o mundo, pois é daquelas que sempre sabe o que dizer, como dizer e para quem dizer.

Os dois tem o melhor abraço do mundo.

Moram em uma cidade linda, calma, onde não tenho ansiedade ou depressão, só tenho vento e mar e areia. A cidade é deles, pois eles são a cidade.

Estando ali, apesar de meu consciente não pensar no que está por vir, o inconsciente deixa claro que está tudo bem.

“Sofi, como anda a vida?” é a pergunta quando estamos só eu e ele.

A resposta vem vomitada, como se eu fosse uma criança que acabou de brincar de pega-pega e precisa de água. Ele é o copo de água e eu sou a criança. Ele é o alívio. Ele ouve, balança a cabeça, não julga, não faz cara feia. Pergunta se eu estou bem, se tudo o que tenho decidido está me fazendo bem. Ele não quer controle, ele quer informações e participar mesmo que seja só ouvindo.

Há semanas eu me comecei a me fechar lentamente para o mundo. Não acho que seja algo grave, mas eu sinto falta de falar com alguém com um rosto, pois minha vida social está limitada a amigos online. E até eles, que dividem vários problemas comigo, não me confortam como ele. Meu padrinho é minha ilha deserta particular para onde posso fugir quando tudo fica pesado demais

O que mais eu poderia querer?

Nesses momentos, nunca pensava que acabaria onde acabei.

Parte X

Um comentário sobre “E morreu IX (eu, no caso)

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