A rotina.
2 anos antes.
Acordar. Acordar, enrolar na cama, pensar se não vale a pena inventar uma desculpa e chegar mais tarde, olhar as mensagens no celular, responder algumas, ignorar outras e perceber que se passaram 15 minutos.
É por isso que eu gosto de acordar 1 hora antes de sair para trabalhar. Sim, odeio acordar rápido, sair correndo, escovar os dentes enquanto coloco o sapato e visto a calça. Não, não é para mim. Sim, amo dormir, dormir e comer, mas também gosto de ter meu tempo para tudo. Portanto, sim, eu acordo 1 hora antes de sair para o trabalho. Ou você aceita ou pode me processar. Na verdade, como eu morri, não pode não. Mas agora vou contar a história ambientando 2014, então talvez você possa sim me processar do presente no passado. Algum físico quântico aí pode me ajudar nessa questão?
Enfim, acordei, levantei, coloquei a roupa, escovei os dentes e sentei no sofá com a bolsa do lado para poder assistir um pouco de TV e enrolar antes de sair. Eu gosto dessa rotina. E eu gosto de ver TV antes de trabalhar, senão eu fico totalmente por fora de tudo que acontece e pareço criança no meio dos adultos nas conversas do almoço na firma.
Eu sou muito distraída, avoada, indiferente (mas não do jeito “too cool for school, eu não ligo para vocês, mortais” e sim do jeito “vivo tanto no mundo da Lua que o se o Silvio Santos soltar um aviãozinho na minha cabeça, não vou perceber) e isso me fez parecer distante. Na verdade, eu vejo todo mundo, observo, ouço, só não gosto de fazer barulho, ser o centro das atenções, falar. Falar está, definitivamente, em um lugar muito baixo na minha lista de prioridades, próximo de comer bacalhau, ler Paulo Coelho e dividir minha comida. Mas ver pessoas, ver como elas são, como reagem às coisas, às outras pessoas, é meu passatempo preferido e meu jeito de sobreviver no meio de gente. Porque ficar sozinha é outro passatempo preferido.
Não que eu não goste de gente, mas é difícil. É cansativo. É como se eu entendesse tão bem o que todos sentem, que acabo sentindo, então viro um catalisador de sentimentos. E se você é uma pessoa que convive em sociedade, com certeza encontra um número considerável de pessoas por dia e bom, acho que não preciso explicar além disso.
De qualquer forma, no ônibus para o trabalho eu leio. Me obrigo a ler porque o caminho para o trabalho ou faculdade sempre foi o momento da leitura e, mesmo após a ansiedade e os celulares com internet rápida demais, jogos, redes sociais, mensageiros instantâneos e vídeos de gatinhos, minha leitura ficou escassa. E eu odeio isso. Gosto de ler. Sabe a Rory de Gilmore Girls? Sou tipo ela, mas sem a pele perfeita, os olhos azuis, os avós ricos e Yale. Na verdade, nossa única semelhança é o amor pelos livros. Talvez ela não tenha sido a melhor comparação.
Desço do ônibus e preciso andar uns 10 minutos até o trabalho, continuo lendo, correndo risco de ser atropelada por carros, motos, bicicletas, monociclos, patinetes, pessoas, gatos, cachorros, elefantes (se eu morasse na Índia), bebês etc. Mas quando o livro é bom e a gente sabe que vai passar 8 horas longe dele, afinal, almoço é hora de socializar, precisamos aproveitar ao máximo.
Chegar no trabalho, dar bom dia para todo mundo que aparece, mas com principal entusiasmo para o porteiro, a recepcionista e as faxineiras. São minhas pessoas preferidas do trabalho. Meus colegas ainda não chegaram, então tenho alguns minutos sozinha e isso vale ouro no planeta de onde venho.
Almoço, conversas, pessoas legais, pessoas não tão legais, pessoas. Alguém vai sair da empresa, outro alguém começou a namorar, mas outro alguém acabou de terminar um noivado de 8 anos. Enquanto isso, outro alguém está grávida e vai sair de licença maternidade eventualmente, então precisamos de um temporário para o lugar. Futebol, política, religião, novela, jornal, o presidente, o chefe, o moço bonito da padaria da esquina.
Vejam bem, eu gostaria de participar de alguns desses assuntos, de verdade, e não para corrigir e fazer discurso e parecer incrível, só unicamente porque quero participar. Mas (na maioria das) às vezes não consigo, fico esperando uma brecha para poder entrar e ela não aparece e eu tenho medo de falar algo e todos me olharem como se eu fosse um peixe andando de bicicleta numa esteira de academia. Então eu só como minha comida, olho, escuto, faço sons de quem está prestando atenção, mexo a cabeça e espero.
Não é chato, não é ruim, mas às vezes seria bom conseguir participar.
Ah…
Essa história tá ficando muito legal,
assim tá fazendo muito jus ao subtitulo de ”devaneios” que o blog possuí.
A correria da vida e as pequenas observações, os pequenos suspiros em meio a uma grande onda. Perfeito, relatos de um cotidiano e a surrealidade de se identificar com ele mesmo sabendo que ele não é seu.
Bjão
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Obrigada, Ju :)) Fico feliz quando as pessoas se identificam, é um jeito de saber que não estamos sozinho nesse mar esquisito
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Excelente. Flui. Verossímil e palpável.
Sou um pouco essa moça aí… Só não sou mais moça. Mas acho que está valendo. 🙂
Vai ser bom acompanhar.
Até.
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Obrigada, Anna! 😃 Acho que todos somos um pouco como ela, né 😉
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““vivo tanto no mundo da Lua que o se o Silvio Santos soltar um aviãozinho na minha cabeça, não vou perceber”
“como se eu fosse um peixe andando de bicicleta numa esteira de academia. ” :)))))) muita onda :)) tá muito massa o/
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Obrigada, Jorge! Fico feliz com seu elogio ❤
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🙂 Fiquei feliz que ficasse feliz e fiquei feliz depois de ter lido 🙂 Felicidade, apareça sempre para nós 🙂 E se não aparecer, também não sacaneie, nós lhe procuraremos, ou criaremos uma 🙂 Tudo de bom Is a Dora! 🙂
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B-E-L-Í-S-S-I-M-O! Me identifiquei em alguns fatos… Parabéns! 😉
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Obrigada, Jorge! A história continua na próxima terça 🙂
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Nossa, profundamente maravilhoso!
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Muito obrigada, Luana! 😃 Continua toda terça, espero que você goste
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Com certeza! 😊
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Incrível! ❤ estou amando seu blog.
A sua visão sobre o mundo e o desenrolar das coisas é muito, mas muito mais interessante do que o noivado de 8 anos que acabou ou o casal da firma que começou a namorar ahahaha. Entende? Eu mais do que me identifiquei, quase que vi uma alma amiga em você, de tanta identificação kkk.
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Obrigada 😄😄😄
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Fico muito feliz com isso ❤ 😃
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Is a Dora virou leitura obrigatória. Junto com os textos do Roberto, que virou colega de Facebook. Adoro o tema que permeia o trabalho de vocês; a morte antes da morte, o isolamento que não é doentio mas parte da personalidade das pessoas. Como psicólogo e uma alma retraida, eu acho engraçado quando as pessoas me criticam por não sair o suficiente. Mas foi como vc colocou: neste mundo de mensagens instantâneas e vídeo de cachorrinhos (nao vejo video de gatos, sou dog person) a solidão assusta as pessoas. Mas prefiro estar sozinho que ser mais um
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Fico feliz por você gostar e se identificar! É difícil ser aceito e entendido quando não se é extrovertido o tempo todo
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O mundo é dos introvertido….mas por favor não divulgue isso; não quero chamar a atenção de ninguem.
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Oi, oi,
Boa noite.
Gostaria do seu endereço de e-mail, é possível?
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Claro, é isadora.moraesc@gmail.com 🙂
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Pingback: E morreu (eu, no caso) IV | Me desculpem, não foi de propósito!
Excelente texto, amo leitura, que bom que nos encontramos.
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